terça-feira, 24 de maio de 2016

Do isolamento ao empreendimento de luxo

O maior empreendimento de luxo está a chegar à Cabo Verde. A Ministra cessante do Turismo, Investimentos e Desenvolvimento Empresarial, Leonesa Fortes assinou o contrato que materializa a construção do Hotel-Cassino na cidade da Praia, mais concretamente no Ilhéu de Santa Maria (Djéu). Esta construção irá transformar não só a cidade capital, mas também Cabo Verde.
Santa Maria é um ilhéu com uma distância de aproximadamente 220 metros da costa da Gamboa, com uma área avaliada em 10,30 hectares e a altura máxima de 14 metros sobre o nível do mar. O seu valor paisagístico e patrimonial está integrado no âmbito da história do ilhéu e da sua integração no Capital do País.
O ilhéu foi usado antigamente como depósito para leprosos e portadores de varíola. Serviu de pontos estratégicos, o que permitiu a geração de abrigo a pequenos botes. Hoje até então, é usado na extensão de pescas na praia da Gamboa que daqui a três anos dará lugar a um empreendimento de luxo.   
Este é um investimento que segundo o investidor Chinês David Chow, é de grande importância que coloca o país no seio do mapa internacional. Irá custar $250 milhões e as obras deverão terminar num prazo de três anos.
Além do hotel-casino, o empreendimento contará com uma marina, um centro de congressos e restaurantes, infra-estruturas hoteleiras e residenciais na zona da praia da Gamboa e uma zona de estacionamento. O projeto é de uma cidade cultural com área de circulação pedonal, miradouros, passeio costeiro panorâmico. Serão erguidos os seguintes equipamentos: boutique hotel, centro cultural cabo-verdiano, centro de convenções, igreja católica. O Cape Verde Integrated Resort & Casino será empreendimento de luxo que abarca atividades de negócios, cultura e lazer, integrado num espaço urbano, em processo de modernização, na perspetiva da criação de uma Praça Financeira na Cidade da Praia.
Os prós e Contras
Há muitos prós e contras em torno desse assunto, mas o projecto já foi assinado e as obras a qualquer momento irão avançar. Há quem aposte no “forte investimento”, no entanto, há quem deixe transparecer no rosto o descontentamento. A pergunta que não quer se calar é, qual é o impacto causado na construção do casino na Cidade da Praia?
João Paulo Gonçalves, aluno do 3ºano de jornalismo na universidade de Cabo Verde, afirma que com a construção de casino no Capital do país, os impactos negativos sobrepõem-se aos positivos.
“O casino vai ser um espaço de jogos/batota, dos vícios dos milionários e pequenos riscos de prostituição, tráfico de drogas e turismo sexual. Ainda acrescenta que “isto é ser dominado pelo imperialismo e capitalismo”.

Para professor Lourenço Gomes, professor de História na universidade de Cabo Verde, é muito importante valorizarmos os nossos patrimónios. No entanto acredita-se que o projeto pode trazer grandes investimentos para Cabo Verde.

“Neste caso penso que vai beneficiar a população em diversos aspetos, o mesmo pode melhorar a qualidade de vida de muitas pessoas, no que diz respeito ao posto de trabalho. Também pode trazer impactos negativos, mas as vantagens positivas certamente irão ser maiores”, frisou.
Segundo Fredilson Cardoso, defensor do Ambiente, presidente da associação careta careta, a construção do casino pode causar o desaparecimento de espécies raras no local e degradar totalmente o ambiente.
“Certamente existem espécies de aves nativas no ilhéu que encontram-se na Lista Vermelha de espécies ameaçadas. Algumas destas aves sobrevivem da atividade piscatória. Tudo isso deve ser levado em consideração. É o mesmo quando tiramos a comida na boca de uma criança inocente”, diz.
No seu entender, Cabo Verde precisa sim, de grandes investimentos, porque o arquipélago por natureza não tem nenhum recurso. É com base no investimento externo que vai gerar mais rendimento e emprego. Ainda, o projeto terá um grande impacto na economia da ilha e do País, considerando a importância da Capital na dinamização da economia do arquipélago.”, Afirma Cleida Barros, licenciada em economia na universidade “Escola de Negocio e Governação” (ENG).
Assis Tavares, estudante do 4ºano de turismo no Instituto Superior de Ciências Económicas e Empresariais (ISCEE) frisa que para atrair mais turistas para Cabo Verde é preciso criar investimentos.

“Os turistas quando vêm para um determinado país é porque vêem algo atraente, encantador e inovador. E com a construção do casino, certamente Cabo verde vai ganhar mais peso em relação ao sector do turismo.
Os impactos
Um estudo feito sobre a construção do Hotel-Cassino deixa também claro que os impactos negativos serão sentidos sobretudo na fase de construção e resultam do condicionamento da área com maquinarias, ferramentas e materiais. A movimentação de terras, escavações, emissão de ruídos e partículas também podem afectar a paisagem, a flora, fauna e os visitantes. Mas segundo o documento, os efeitos positivos sobrepõem-se aos negativos e serão essencialmente a nível da geração de postos de trabalho, em particular na área da construção civil, na dinamização do comércio e nas finanças públicas, tanto a nível local como nacional.

Com isto vimos que como tudo na vida tem um lado positivo e negativo. Os argumentos aqui apresentados são mais a favores do que contra. O projecto já foi permitido a sua construção, resta agora esperar pela sua concretização.   
                 

Por: Grace Cabral

Comércio Informal representa 12,1% do PIB de Cabo Verde



Ao percorrer a Cidade da Praia pode-se constatar nas principais avenidas vendedeiras ambulantes ou comerciantes que buscam o sustento para as suas famílias. Cestos, tabuleiros, barracas com frutas, legumes, vestuários dispositivos eletrónicos. Estão nos passeios, praças e ruas da capital, em qualquer sítio desde que a haja clientela para venderem os seus produtos. Onde há maior circulação de pessoas podemos as encontrar. Aparecem quando menos esperamos. Entre a multidão, o corri e corri na tentativa de desviar de um cesto que se encontra no passeio ouve-se uma voz que distingue do barulho que se faz ouvir: “ben konpra-m!”.N tene tomate, alfasi e kouvi, bem, N ta fazeu baratu.” É o dia-a-dia das Rabidantes da cidade da Praia abordam os transeuntes tentando os convencer a comprar os seus produtos. Fazem parte do setor económico denominado de informal.

O setor informal é um atividade que vem sendo explorada desde há muito tempo. Seus praticantes podem ser definidos apenas pelos seus objetos que as acompanham: aventais, cestos cheios de produtos, legumes, hortaliças, frutos e entre outros bens de consumo. Comércio informal define-se pelo comércio que é praticado sem o atendimento às regras comerciais regulares, é o comerciante que não está registrado na junta comercial e não contribuem com impostos ao governo.

Em Cabo Verde, segundo os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), publicados em finais de novembro de 2015, aponta para um crescimento considerável de Unidades de Produção Informais (UPI) nos últimos anos, passando de 24.060 em 2009 para 33.228 em 2015, o que corresponde a um incremento de 46 por cento (%). Nos dados do INE ainda consta que cerca de 71% dessas pessoas não pagam os impostos e por sua vez 61% não desejam fazê-lo. É o caso de Nélia Almeida, vendedeira ambulante, diz que não tem nenhuma razão para pagar impostos. E que nem sabe como fazê-lo. “O que ganho mal dá para o sustento, e ainda mais para pagar imposto”, afirma a vendedeira ambulante. Nélia Almeida revela ainda que nunca recorreu a nenhum empréstimo para poder fazer suas compras porque não precisa. “Juntei o meu próprio dinheiro por algum tempo para comprar as minhas mercadorias e revender.”

Ainda os estudos do INE aponta que apenas 0.9% das pessoas que praticam o comércio informal recorrem a uma estrutura financeira para ter acesso ao crédito, e 90% provem das economias feitas pelas próprias UPI, ou donativos ou herança deixados pelos pais.

É na cidade da Praia que se encontra um terço do setor informal do país. Vêm de todos os cantos da ilha de Santiago para a capital, as causas podem ser singulares, no entanto o objetivo é evidente para todos, melhores condições de vida, e sustento do cada dia. São mulheres, homens e sem esquecer das crianças que ali estão por obrigações ou boa vontade de ajudar os pais, para poderem comer bem amanhã. Passeios, ruas, becos, bermas das estradas é o paradeiro. Ali encontra-se tudo de um pouco, vestidos, chinelos, brincos, torresmos, maçã e por vezes até cuscuz com leite.

 Os praticantes são principalmente mulheres, os dados do INE apontam que 58.8%, e 12% são homens com menos de 25 anos. Artemisa Pereira, Vendedeira de comida, no Sucupira, é chefe de família, tem 3 filhos para sustentar. O mais velho se encontra a frequentar 2º ano de licenciatura em Inglês na Uni-CV, e os mais novos estão a frequentar o Ensino Secundário. Artemisa Pereira pratica está atividade há 7 anos, diz que “é o único meio que tenho para sustentar os meus filhos.” Realça ainda que é com o que ganha que consegue pagar os estudos dos filhos na Universidade e no Secundário. “Todo o dinheiro que ganho é para os meus filhos”, conclui a vendedeira com sorriso no rosto.

Estória semelhante é de Sabina Teixeira, vendedeira ambulante no Plateau, que vende nas ruas do planalto, em busca do “ganha-pão” para a filha. Sabina é chefe de família. É de suas incursões diárias para o Plateau que tira o sustento da sua família, propriamente a sua filha. Ciente nos homens fardados de azul ao longe, diz-nos que mesmo que não é permitido vender nos passeios é a melhor opção que tem, e de onde consegue dinheiro para sustentar a filha que está no Ensino Primário. Quando os homens de azul aproximam apanha o seu cesto e coloca na cabeça: “N tem ki anda”, e mistura com os transeuntes. No passeio estava Amélia Morreira, com pouco mais dos 40 anos e com quantidade diversificada de produtos, o que não favoreceu a sua fuga. Agora tem que pagar uma coima para recuperar a mercadoria apreendida.

Mário Celso Lobo, num artigo de opinião escrito ao jornal A Semana sobre ‘Comércio informal nas ruas da Capital requer soluções’, diz que “a colocação de policiais e guardas municipais nas ruas da capital, que simplesmente servem para afugentar ou correr atrás dos vendedores, não é a solução, mas sim, tem um grande impacto na geração de conflitos entre ambas as partes.” Ainda diz que a presença de vendedoras nas ruas é uma manifestação da pobreza urbana e da falta de emprego e não porque gostam de lá estar e, “quando mais empregos forem criados, mais pessoas sairão das ruas”, conclui Mário Lobo.

Apesar trazer constrangimentos. Os dados do Instituto Nacional de Estatística apontam que o setor informal representa 12,1 do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Anualmente o volume de negócio gerado pelas UPI é de 27.7 milhões de contos, com uma produção a rondar os 27.75 milhões de contos.
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Por: Grace Cabral

segunda-feira, 23 de maio de 2016

IV encontro do EIRI



 A Universidade de Cabo Verde (Uni-CV) realiza, nos dias 26 e 27, o IV Encontro Internacional de Reflexão e Investigação (EIRI). O evento que acontece anualmente é organizado pela Faculdade de Ciências Sociais, Humanas e Artes (FCSHA) da Uni-CV e que este ano marca a celebração do 10º aniversário da universidade.
 Segundo o professor e coordenador do evento José Esteves Reis este encontro é realizado com objetivo de dinamizar a comunidade académica, produzir artigos e fazer de Cabo Verde uma plataforma de conhecimentos em termos mundiais particularmente a nível da CPLP.
 As atividades, iniciam quarta-feira a tarde 25, com uma mesa redonda sobre o ensino superior público em Cabo Verde, nos 10 anos da universidade pública e três décadas da criação desse nível de ensino no país. Já nos dias 26 e 27 recebem cerca de trinta comunicações de vinte professores doutorados e dez mestres, vindos de uma quinzena de áreas científicas como Ciências Sociais, Ciência Política, Relações Internacionais, Linguística, Sociologia, Gestão, Línguas e Literaturas, Políticas Públicas e Desenvolvimento, Antropologia Social e Arquitetura, Território e Memória.
O IV EIRI reúne cerca de quatro dezenas de investigadores, dos quais, três são oriundos de Universidades de Cabo Verde, oito de Portugal, um do Brasil e um da França. Deste modo estarão representadas as universidades nacionais a Uni-CV, a Uni-Piaget e o Instituto CSJ, bem como as internacionais: de Portugal estarão presentes representantes das Universidades de Lisboa, de Coimbra, Nova de Lisboa, Beira Interior, Évora, Fernando Pessoa, Instituto Politécnico de Lisboa e Instituto de Estudos Superiores Militares; do Brasil a representação vem da Universidade Estadual de São Paulo e da França de Bordéus. 

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Por: Grace Cabral

sexta-feira, 20 de maio de 2016

Psicopata ou terrorista? Afinal, quem é “Antany”?


Artigo de Opinião
 “Antany”, um nome que vai ficar, para sempre, na memória dos cabo-verdianos, pelo menos, na daqueles que ficaram chocados com o ocorrido.
Na passada terça feira, 26 de Abril, o país acordou em alerta máxima por causa de um mega acontecimento nunca ocorrido antes em Cabo Verde: um massacre que resultou na perda de 11 vidas humanas, 8 militares e 3 civis, na localidade de “Monte Txota” Concelho de São Domingos – Praia.
   Essas onze pessoas teriam sido brutalmente assassinadas por um militar companheiro que depois de cometer esse crime bárbaro abandonou o local e regressou à Praia para “ terminar de cumprir a sua missão – matar mais algumas pessoas, inclusive o seu padrasto”.
    Face à todo este acontecimento, a pergunta que não quer calar é: afinal, quem é Antany? Um psicopata ou um terrorista? 
    Parece-me que esta não é uma questão fácil de se responder, isto levando em conta que um indivíduo capaz de cometer esta atrocidade não é passível de ser interpretado sob um único critério, o psicológico, por exemplo.
   Imaginemos um jovem de 22 anos, com todo o futuro pela frente, acusado pelo assassinato de onze pessoas. Perguntamos: o que o teria levado a cometer este crime, denominado por muitos, de um atentado terrorista? A quem poderia, a culpa, ser atribuída? Ele deveria ser preso ou internado? São várias as questões que podem ser levantadas em torno deste caso no geral e do protagonista, em particular. 
    Contudo, por detrás deste ato monstruoso, como a maioria descreve, existe uma motivação: “não suportava receber ordens e nem abusos dos superiores”. E eu insisto na questão: seria ele, então, um terrorista ou um psicopata? 
    Assim como define a psicanálise, o psicopata é aquele que age com consciência dos seus atos, porém não se comove com os efeitos e tampouco se arrepende deles. Um psicopata então? Não me compete responder. 
Porém, se analisarmos todo o discurso de Antany, principalmente no momento em que ele diz que pretendia terminar a sua “missão” assassinando mais pessoas, isto não soaria um pouco ao pensamento terrorista? - Esta é uma pista que vos convido, caros leitores, a pensarem a respeito.
Este ato hediondo seria supostamente motivado por uma acumulação crescente de raiva e de rancor que culminou nesta tragédia, isto traduzindo em miúdos todas as informações acerca do caso, divulgado pelos média.
Terrorista ou psicopata, o facto é que ele é um jovem que apresenta características psicológicas e emocionais um tanto dúbias que merecem uma especial atenção da psicanálise e dos psicólogos a bem de toda a sociedade cabo-verdiana. 
Aquilo que o presumível assassino pode ou não ser é o que menos importa para os familiares das vítimas que apelam somente por justiça.
Mais não digo!
Por: Grace Cabral